Saturday, May 27, 2006

Petição em favor das Línguas Clássicas em Portugal

No seguimento da recente reorganização da rede escolar e dos agrupamentos de disciplinas, o ensino das línguas clássicas passou a residual nas escolas secundárias, e em muito poucas, e corre o risco de desaparecer em breve do ensino superior. (...)
Os signatários, cujos nomes se seguem, fazem, pois, um apelo aos nossos governantes e à opinião pública: - pedimos que não reneguem as próprias raízes greco-latinas de uma concepção nobre da política e da sociedade, ética e à escala humana; - reivindicamos o restabelecimento de condições que facultem a todos os jovens a possibilidade de estudarem as línguas e as culturas clássicas em todos os níveis de ensino, das escolas básicas e secundárias às politécnicas e universitárias.
Promotores: APEC — Associação Portuguesa de Estudos Clássicos, Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra, Departamento de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa.

Wednesday, May 17, 2006

A Mulher de Lot


They say I Looked back from curiosity
Wislawa Szymborska

Dizem que olhou para trás pela única esperança
que Deus pudesse ter mudado a sua mão
talvez se dissipasse o fogo
na órbita do sol, talvez o enxofre
fosse levado até à orla marítima
do vento
Dizem que olhou para trás por admiração
para ver um fogo a competir com outro fogo
Dizem que olhou por um equívoco
que estava a ver o princípio do mundo
Dizem que foi por teimosia
que a flor azul relutava
contra o fio dos seus cabelos
Dizem que por inexperiência olhou para trás
Dizem que olhou por curiosidade
a certa altura do primeiro relâmpago
a riscar a noite e a dissipar a dúvida
Dizem que olhou para trás por um vestido
que ficara sobre a cama de um modo leviano
Dizem
dizem que foi o coração que olhou para trás
porque este é um órgão imprevisto
cego que anda em busca de si mesmo.

Monday, May 08, 2006

A sarça que não cessa

Entre urzes e pedras as rotinas
pastoreio, minha vara e meu cajado
o chão levantam, ruminam
como se tivessem as ovelhas
na boca palavras intangíveis


Agora olharei a sarça que se abre
numa visão esculpida no arbusto
que se abre ao lume
que treme ao vento
a sarça onde só o fogo arde


Lanço de longe o olhar
para o crepitar do silêncio
Está Deus a tecer a sarça
no seu lume rendilhado
como nas mãos invisíveis?


Está a sarça a tecer o divino
sinal que o Senhor envia
ao vegetal indigno


Doem-me os olhos
nas cicatrizes da sarça
mas olho e a minha alma
se alumia, olho e tanto milagre
acende nos meus olhos
os cristais da alegria.

4-2004

Monday, May 01, 2006

O Esfarelado Evangelho de Judas


No Portal Evangélico da Aliança Evangélica Portuguesa publiquei, no dia 29 do passado mês de Abril, um artigo sobre o momento de «reescrita» de um aspecto crucial da Paixão e Morte redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo - a publicação do «Evangelho de Judas». Um excerto desse mesmo artigo, é o que abaixo editamos.
Bloco de textoO documento de 26 folhas denominado Evangelho de Judas, um estranho papiro que sofreu as dores de parto de uma história rocambolesca para aparecer, «escrito» por membros da seita gnóstica e herética no século II, não «existe» enquanto Teologia.
Que Judas agiu sob consentimento divino, mas com plena liberdade ética, é, de facto, um debate teológico, porquanto o Pai consentiu no sofrimento do Filho, de acordo com as Escrituras.
Mas que a crucificação foi «uma reencenação da profecia bíblica» - segundo um teólogo britânico, a propósito do caso – já é apenas uma observação do criticismo moderno sobre a teologia da Bíblia.
A verdade é que o VT não propôs encenações, mas adiantou tipos, figuras, sombras, que se concretizaram no Novo Testamento, sendo a Expiação dos pecados da humanidade pelo Filho de Deus a centralidade dessa tipologia e a sua realização.
Mesmo a existência física desse alegado Evangelho de Judas foi controversa, apesar de ter sido atestada pelo primeiro bispo de Lyon, Irineu, que no mesmo século II não deixou de denunciar o texto como herético.