Thursday, March 29, 2007

Conto: Os Olhos de Judas I.

Judas I. tinha um olhar sempre enviesado e isso fazia com que os seus olhos, que esgueirava e fechava levemente ao dirigi-los para pessoas e coisas, ficassem muito escuros.
Somente vários séculos depois se deu por essa particularidade e foi um pintor renascentista que descobriu no seu olhar uma tendência para as sombras.
Ninguém se apercebera da profundidade dessa escuridão, durante aquele jantar, o ponto central onde recaiam os olhares de todos era sem dúvida o prato.
Um prato único, onde o cordeiro e o molho se tornavam pertença de todos, e onde as diferenças, tantas como os feitios dos doze que rodeavam a mesa, seriam as mãos dos comensais, retirando do mesmo prato o que era a comida da páscoa de todos, no seu significado límpido. O mistério daquela que iria ser a última ceia, estava, porém, na frase de Jesus.
-O que mete comigo a mão no prato, esse me há-de trair. - dissera Ele, sem tremor na voz, sem azedume, mas sublinhando cada palavra com uma tristeza que tinia como os cristais nos ouvidos dos díscipulos, como uma inevitabilidade.
Nesse momento, os olhos de Judas I. enviesaram-se, tomaram uma posição de defesa e, de soslaio, ficaram como duas rapozinhas entre arbustos.
Sabia mais do que todos os companheiros, já possuia o peso da traição, nessa última semana a sua vida já vivia de sombras.
A sua vida tinha sido até àquele dia um somatório de hipocrisias, que agora se desnudavam na fronteira entre o amor ao dinheiro e o desamor à missão do Mestre.
Pouco habituado com Jesus, como de resto os demais condíscipulos, a situações limite, o Mestre sempre lhes resolvera qualquer problema, estava agora no fio da navalha. E era a hipocrisia que aflorava no limite, pois conhecendo-se, também perguntara - «Porventura, sou eu, Senhor? -, fazendo coro com a inocência e a estupefacção dos companheiros, que estavam sentados naquela mesa.
Estava ali como no derradeiro acto da sua encenação hipócrita. Já traíra ao receber as trinta moedas de prata e continuaria a trair ao responder ao gesto de amizade e de deferência do Mestre, respeitador dos usos e costumes da Palestina, quando distribuia pedaços de pão ensopados de molho aos seus convidados.
Por isso não pode deixar de receber a frase «o que mete comigo a mão no prato, esse me há-de trair », escondendo os seus olhos no soslaio da sombra, fazendo apenas avançar a sua mão na ponta de um braço que mais parecia uma lança, arremessada ao peito de Jesus, para receber o pedaço do pão da harmonia, que para ele poderia ter sido, mas não foi, que foi o pedaço final da composição do seu carácter de traidor.
A claridade do aviso de Jesus, não o arrancaria do seu refúgio na sombra, apenas lhe fez semi-fechar ainda mais os olhos, gelando-os.
-Ai do homem por quem eu sou traído! Bom seria para esse homem se não houvera nascido.
O hebraismo da frase continha toda a inevitabilidade da profecia e os olhos de Judas I. já não tiveram tempo de recusar fosse o que fosse, nem o seu coração.

Praia de Mira, 8-2003

Wednesday, March 21, 2007

Dia Mundial da Poesia

No dia 21/4/1956, na Alameda, aos 9 anos

ESPELHO ÀS 9:30 DA MANHÃ

para Charles Bukowski

Isto parece um rosto
de 60 anos? Rusgas
dos olhos pelos ângulos
escondidos na face
do espelho.
Procuram vestígios
do menino com meias altas
e braços caídos, um
terminando numa Bíblia,
na fotografia à la minute.
Um desalento. A respiração
no espelho
espalha o nevoeiro
e esconde
as minhas formas interiores.

15-3-2007

Monday, March 19, 2007

Poeti Italiani

lunedì, marzo 19, 2007

Joào Tomas Parreira
Pubblicate su Poeti italiani, toscani e pisani le nuove belle, intense e profonde poesie di Tomas Parreira, poeta portoghese, nato a Lisbona, 1947.
e www.papeisnagaveta.blogspot.com
# posted by Alberto @ lunedì, marzo 19, 2007

À espera da Morte


La imagen de ese buitre acechando a una niña moribunda en África le persiguió en vida. Con ella atrapó el Pulitzer, pero también la maldición de una pregunta: “¿Qué hiciste para ayudarla?”. A Kevin Carter, cronista gráfico de la Suráfrica del 'apartheid', la presión le empujó al suicidio. Un periodista testigo de aquellos años rememora su figura.
Créditos: El Pais, de hoje, Dia do Pai

Monday, March 12, 2007

As Prisões dos Judeus


Existem hoje cerca de 15 milhões de judeus em todo o mundo. O mesmo censo demográfico indica que apenas cinco milhões vivem em Israel.
Fora ou dentro do seu espaço, os judeus estão condenados a sê-lo. E também o seu Estado de Israel.
O judaismo impôs sempre aos hebreus um comportamento sacro e moral. Certo sábio rabino no chamado Sínodo de Yabneh ou Jamnia, no século I, disse que “a Torah foi dada no Monte Sinai e nos foram dados métodos de exegese, por isso a Torah não está mais no Céu, ela está aqui em Israel.”
Por isso, não se trata apenas de um conceito novo do pós-modernismo, segundo o qual os judeus estão prisioneiros, na sua mente, por causa das suas raízes e origens bíblicas, realmente os muros dessa prisão são «a essência, a eternidade e o absoluto», estão cativos do próprio Deus.
Em Fevereiro último, o fundador da Le Nouvel Observateur, o jornalista Jean Daniel, oriundo de judeus sefarditas, escreveu sobre essa alegada prisão judia, assegurando que «pode-se sair da religião, mas nunca se sai do povo judeu e de seu destino único, mesmo que a gente se declare não crente.»
A identidade dos judeus é alvo de objecções e fala-se unicamente da sua cidadania política e da sua posse territorial. Tomando a base bíblica, incontornável, os israelitas, mesmo hoje, são oriundos de uma identidade e não podem ser desapossados do seu espaço físico, a Palestina. São simultaneamnte o povo do Velho Testamento, a nação à qual Jesus Cristo veio ofertar primeiramente a Salvação, e território peculiar. A religião judaica, mais tarde chamada Talmúdica, essa, é outra categoria. A questão judaica hoje já não inclui exclusivamente o judaísmo. Por isso existem judeus-ateus, judeus-não crentes, e o que seria uma contradição nos termos, é actualmente uma realidade. Mas ainda assim, o judaísmo -o seu credo judaico, ou talvez melhor, talmúdico, resumido à profundidade dos seus Treze Princípios formulados por Maimónides no século XII- prende os judeus a uma forma, não de culto ou ritual mosaico, mas mental.

Sunday, March 04, 2007

NYT: O Medo dos ataques terroristas

In The New York Times de hoje:
Design Strikes a Defensive Posture

New urban architecture applies its art to self-defense, in the face of fears of attack. Call it modern medievalism.