Wednesday, December 31, 2008

Cem Anos de Fundamentos

Firmeza nas mesmas Coisas
O meio ambiente religioso de Filipos da Macedónia era propenso aos sincretismos.

Foi terreno fértil tanto para os cultos de Ísis e Artémis, como para os cultos greco-romanos, até o culto inelutável de uma religião imperial. O conhecimento do judaísmo helenizado também não seria esquecido. A própria magia corria pelos dedos dos filipenses como rios de dinheiro, o uso mercantilista dos espíritos demoníacos.

Foi neste contexto que Paulo chegou a Filipos e fundou uma igreja cristã, pela qual passou a sentir grande afecto.

Como o apóstolo Paulo nunca foi um produto da assimilação das opiniões que corriam nos seus dias, em certo sentido, diríamos que foi líder de opinião.

Fosse qual fosse o território onde as suas viagens missionárias o levassem, a aplicação da Verdade do Evangelho, da ética e da moral cristãs, a Salvação do homem e a Vida Eterna deste como retribuição futura, consistia no seu primordial objectivo.

Onde Paulo chegava, contra o monte Párnaso, ou o altar ao «deus desconhecido», ou mesmo os judaísmos voltados para o monte de Jerusalém, ele contra tudo isso, levantava o Gólgota, que era também a contra-cultura do seu tempo. E, na verdade, de todos os tempos.

Pela causa de Cristo crucificado, Paulo envolveu e conquistou a Macedónia. Como aos atenienses divulgou a infinitude e a glória do «deus desconhecido», que os gregos supunham brindar com a «santa» ignorância, aos macedónios filipenses ensinou que o verdadeiro «Deus Altíssimo» não ficava como refém de uma simples frase de uma mera adivinhadora. Sim, porque às vezes é preciso que se saiba quem é o Deus Altíssimo e o que significa nos lábios de quem o pronuncia (At 16,17; Lc 8,28), seja através das «pedras» que falam quando os homens se calam ou seja através de uma jovem endemoninhada.

Contextualizações para valorizar a firmeza
No meio dos ataques do sincretismo religioso, das políticas anti-tudo que viesse da Judeia, da legislação em vigor nas colónias greco-asiáticas do Império Romano acerca de actividades religiosas prosélitas, o autor da epístola aos Filipenses propugnava pela firmeza dos crentes da Igreja, na Macedónia.

«Abundância na caridade, na ciência e no conhecimento», «aprovação das coisas excelentes», «cheios de frutos de justiça», são alguns dos pontos iniciais que Paulo desejava e nos quais os cristãos filipenses deveriam abundar (1,9-11) com firmeza. Com efeito, pontos fortes indubitavelmente contra os sincretismos para aqueles dias e para hoje também.

Cem anos de Fundamentos
Pensamos que no século XXI os sincretismos tomaram forma avassaladora como produtos do chamado pós-modernismo relativamente às religiões e aos valores, até mesmo sob a forma do profetizado Choque de Civilizações ( do recentemente falecido prof. Samuel Huntington), contudo os avisos sobre os sincretismos religiosos começaram cedo nos inícios do passado século XX.
A primeira e prevalecente «civlização», segundo a leitura do autor supracitado, foi sem dúvida a Ocidental. Nem se podia falar nessa altura de um «choque», o Ocidente começava a instalar-se sobre todas as demais: latino-americana, islâmica, chinesa, hinduísta ou mesmo africana, etc. O Ocidente prevalecia também definido em torno de uma religião, o Cristianismo.
Em 1909, há exactamente cem anos, «Deus levou dois Cristãos leigos, Lyman e Milton Stewart, a comprometerem-se com os gastos da publicação de uma série de doze volmes que deveriam apresentar os fundamentos da fé cristã.»( Os Fundamentos, R.A.Torrey, Hagnos, 2005)
Os referidos magnatas do petróleo californiano, dispuseram a sua fortuna para espalhar os Fundamentos.
As suas doutrinas foram e continuam a ser fundamentais na Fé Cristã, aqui algumas em síntese:

Bíblia Sagrada, no seu conteúdo espiritual e na sua estrutura literária, veículo para conhecer os fundamentos da humanidade, Palavra de Deus para a Salvação, para a Moral e a Ética do criatura humana.
Deus, Pai Criador, omnipotente, omnisciente e omnipresente no Universo.
Deus em Cristo. O Deus-Homem, o nascimento virginal de Jesus Cristo e a Sua ressurreição corporal dentre os mortos.
Espírito Santo, Pessoa divina que intervém no confronto do coração humano com a necessidade de Salvação que Deus-Homem trouxe à humanidade, a Redenção por causa do Pecado.
Vida Eterna como retribuição futura do crente.

Então, era preciso combater as incursões do liberalismo. As armas práticas foram remetidas «gratuitamente a ministros do evangelho, missionários, supervisores da escola dominical». Sabe-se hoje que três milhões de volumes foram então distribuídos, ainda que exclusivamente no mundo anglo-saxónico.
Nesse momento da história em que a conjugação do chronos e kairos se realizaram felizmente como tempo e oportunidade, o Fundamentalismo tornou-se um enorme e inexpugnável «Pártenon» doutrinário.

Monday, December 22, 2008

Anunciação


O que estava dentro dela
a Alegria, o Nome
escrito
da direita para a esquerda,
Maria não O via
ainda com seus olhos.

Um anjo imune
ao calor de dia, ao frio
do fundo das almas desertas,
desceria
do tecto do céu
para anunciar a passagem
de Deus no mundo.

12/2008

Wednesday, December 17, 2008

Os Sapatos de Desprezo


Sapatos de desprezo voaram
decididos
na cabeça da América
anos de submissão forçada
ganharam asas sólidas
súbitas
como grito das entranhas
que ressoa a Babilónia

Nabuco rasou as torres
ainda altaneiras
de Nova Iorque.

Poema de Brissos Lino

12/08

in A Ovelha Perdida, hoje

Thursday, December 11, 2008

10 anos de défice de concordância verbal

Parece que existem razões para criticar a Nova Versão Internacional (NVI) do Novo Testamento, publicada pela Editora Vida e datada de 1998.

Mas nem todas essas razões serão do âmbito da teologia do Texto Sagrado, mesmo quando o marketing diz que «a tradução da NVI é isenta de interpretações particulares ou denominacionais.» Nem corroboram necessariamente as críticas através das quais algumas Igrejas Evangélicas fundamentalistas afirmam que se trata de uma versão moderna visando «enfraquecer diversas doutrinas como a Divindade de Cristo, a expiação por Cristo e só pelo Seu sangue, Sua morte vicária, etc.etc.»

Ao atribuir-lhe influências que talvez tenham pesado, como a vetusta versão de Westcott e Hort (feita em 1881) e que deu origem ao chamado Texto Crítico, tais razões até acabam por respeitar uma Versão que é produto de «dez anos de trabalho intenso, milhares de horas gastas, por eruditos de diferentes especialidades teológicas e linguísticas».

Com efeito, no aspecto linguístico e das estruturas da frase, da beleza de estilo e de um discurso concordante, é que perante alguns trechos nos quedamos perplexos pela má qualidade desse discurso, nesta tradução para a língua portuguesa. O que felizmente não acontece com outra versão traduzida para a nossa língua na designada A Bíblia para Hoje, mais conhecida por O Livro, da Socidade Bíblica de Portugal, de 2000(?), cujas estruturas da frase estão correctas e são dinâmicas.

A verdade é que à publicação da NVI enquanto linguagem adequada ao entendimento do homem do século XXI, de muitas leituras e que sabe distinguir um bom texto de um mau texto, corresponde uma redacção muito pouco cuidada, no rigor do bom português e na dialogia (em síntese a figura do diálogo que dá vida a uma argumentação), o que qualquer bom texto ou boa obra já não dispensam, nos nossos dias.

A NVI exibe, de facto, alguns défices na sua sintaxe, na sua prosódia, o que não abona a produção de um bom texto comunicacional.

Infelizmente para quem tanto invoca, com razão e, sem dúvida, honestidade, a ciência linguística que nos sublima o legado dos textos escritos remotamente, mas de conteúdo eterno, incorreu-se num mau serviço prestado à natureza dinâmica da linguagem. Esta com certeza que exige actualização da língua, mas não faz pactos com erros de estrutura na sintaxe. O que se comunicou bem no passado não pode tornar-se menos belo e estético no presente, apenas para que possa ajustar-se à comunicação de massa, isto é, a uma divulgação massiva.

A contemporaneidade não pode significar sincretismo, sobretudo no que concerne aos Textos Bíblicos, e jamais o rebaixamento do nível da compreensão da mensagem, «popularizando» a mesma ao ponto de quase a fazer sucumbir a uma actual e infeliz iliteracia.

É o caso de algumas passagens dos Evangelhos em que a narrativa está ordenada com um défice de concordância.

A Concordância Verbal

Como se sabe, trata-se da solidariedade entre o verbo e o sujeito, e nas suas regras gerais, os autores da celebrizada Nova Gramática do Português Contemporâneo, Profs. Celso Cunha e Lyndley Cintra, 1984, vão à concordância do verbo com o número e a pessoa e o sujeito, vão até aos casos particulares dos pronomes e da regência dos verbos.

Os Exemplos Infelizes da NVI

Salvo melhor opinião, as divergências no tratamento vocativo dos protagonistas de alguns trechos dos Evangelhos não condizem com o modo das relações pessoais, nem tão-pouco com o original grego, de cuja origem linguística o Novo Testamento parte e os autores da NVI reivindicam, e bem, o ponto de partida na fidelidade ao original.

Eis alguns desses exemplos:

-Mateus, 3. 14,15 : «Eu preciso ser baptizado por ti, e tu vens a mim? Respondeu Jesus: «Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça». Acresce que o verbo grego aphes é conjugado na 2ª pessoa, activamente, ( pelo que devia ser deixa e não deixe) .

-Mat 4. 6,7: «Se tu és o Filho de Deus, joga-te daqui para baixo.» Jesus lhe respondeu:«Não tente o Senhor seu Deus».

-Mat 4.9,10: E (o diabo) lhe disse: «Tudo isto te darei, se te prostrares e me adorares». Jesus lhe disse:« Retire-se, Satanás! Pois está escrito: «Adore o
Senhor seu Deus e sirva somente a ele.» Do modo como está redigida a reconstrucção da frase, oriunda do hebraico Shemá, pode inferir-se que a mesma parece querer exortar Satanás a que «deve adorar e servir» o Senhor. O que é, no mínimo, uma impossibilidade teológica.

-Mat 8.21,22: Outro discípulo lhe disse: «Senhor, deixa-me primeiro ir sepultar meu pai.» Mas Jesus lhe disse: «Siga-me, e deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos.»

Procuramos aqui, como se percebe, o paradigma do diálogo de Jesus com três personagens diferenciados. Um histórico, um ente espiritual, e um desconhecido. E não entendemos por que razão o tu se torna você, num cerimonial não adequado.

Outros exemplos de outros tantos aspectos paradigmáticos, não deixam de nos causar alguma perplexidade.

-Marcos 1. 40,41: Um leproso aproximou-se dele e suplicou-lhe de joelhos: «Se quiseres, podes purificar-me!» Cheio de compaixão, Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: «Quero. Seja purificado.» Imediatamente a lepra o deixou, e ele foi purificado.

O referencial forte do verbo katharídzo (limpar, purificar, declarar ritualmente aceitável), tanto permite a voz imperativa «fica limpo», como «purificado», mas é a forma de construir a oração da narrativa em discurso directo que lhe confere o ênfase e a emoção do texto.

Salvo melhor opinião, no texto da NVI, há uma frieza de discurso, que quase se revela neutral. Parece que o tom da narrativa acentua uma declaração formal por parte de Jesus, como que a declarar ritualmente aceitável o leproso, e não a acção dinâmica de Jesus a operar o milagre da cura através da sua palavra poderosa e declarativa. Para além de uma certa impessoalidade no trato, o que nunca foi uma atitude de Jesus mantendo à distância socialmente os necessitados e doentes.

- Lucas 13.23-25 : Alguém lhe perguntou: Senhor, serão poucos os salvos? Ele lhes disse: «Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: «Senhor, abre-nos a porta». Neste exemplo de ausência de concordância, os pronomes pessoais confundem o díalogo. Nem precisamos do grego légõ ýmin, basta que consideremos as pessoas gramaticais que nos são indicadas para a compreensão de um colóquio: «com quem se fala» são o tu e o vós; e «de quem se fala»-ele, eles. O primeiro caso gramatical é aquele que se adapta ao nosso texto.

- João 3. 7: Não se surpreendam pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo. De facto, para este trecho há opiniões que dizem que a língua grega implica um plural. Em nossa opinião, após a análise de outras versões, até mesmo da Holy Bible, New Intenational Version, da «New York International Bible Society», de 1978, ou João está a narrar o que Jesus Cristo já havia ensinado a um conjunto de outras pessoas, e, portanto, trata-se de uma transcrição em discurso directo, ou se está a forçar a gramática grega do texto original a algo que ela não pretendeu estabelecer.

O facto é que no NT grego o verbo dizer e o pronome pessoal, é referencial à 2ª pessoa do singular, na primeira parte do versículo ( «Não te admires de eu te dizer »). Já na segunda parte, o pronome está no plural. Jesus relembra o que já teria dito em colectivo: «Necessário vos é nascer de novo »?

Não podemos afirmar isso, podemos apenas relembrar que no início da conversa entre ambos foi o que Jesus começou por afirmar «Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.» Mas o mais provável é ser uma assertiva de carácter universal, abrangente e por essa razão ( na língua grega) gramaticalmente impessoal.

Finalmente, relevo da intenção da NVI o pretender alcançar uma «linguagem relevante ao coração do homem do século 21», com reverência e comprometimento, embora críticas menos benevolentes, em matérias doutrinárias, proponham que há nesta versão ataques e diatribes contra a genuína Palavra de Deus.

Wednesday, December 10, 2008

60 Anos de Direitos Humanos


60º aniversário da Declaração Universal
Na imagem a revista que evocava o 30º aniversário,em 1978.

"CRIOU DEUS, POIS, O HOMEM À SUA IMAGEM, À IMAGEM DE DEUS O CRIOU; HOMEM E MULHER OS CRIOU." Génesis,1,27

Wednesday, December 03, 2008

Adenda a "Morte com Interrupções"

(...)
O Prémio Nobel da Literatura português previu ficcionalmente um facto contrário às normas da vida, a ausência da morte. Contrariamente a outras declarações suas pessimistas, estava a contradizer uma observação comum à decada de 40 do escritor argelino Albert Camus, segundo o qual «os homens morrem e não são felizes». A seu modo gosta também de elaborar uma escrita sobre absurdos. Por outro lado, parece-nos que ajudou também ao pessimismo telúrico e barroco de Miguel Torga, que cantou «Apetece morrer, mas ninguém morre», no poema Dies Irae .

Monday, December 01, 2008

Morte com interrupções


“No dia seguinte ninguém morreu.” E as consequências éticas, filosóficas, religiosas do desajuste da demografia mundial estavam lançadas, por ninguém morrer.
Trata-se aqui do início da intriga ficcional do romance «As Intermitências da Morte»(2005), de José Saramago, que repetiu, formalmente, o seu estilo na pontuação e no uso de minúsculas.

O Prémio Nobel da Literatura português previu ficcionalmente um facto contrário às normas da vida, a ausência da morte. Contrariamente a outras declarações suas pessimistas, estava a contradizer uma observação comum à decada de 40 do escritor argelino Albert Camus, segundo o qual «os homens morrem e não são felizes». A seu modo gosta também de elaborar uma escrita sobre absurdos.

Desde que a sua literatura começou a ser prolífica e marca de griffe editorial, que José Saramago tem uma tendência para surrealizar o que ele mais contesta, a religião cristã, o que não pode suportar, a «solução Deus», e por isso antepõe que Deus «é o problema». Em entrevista recente ao «Diário de Notícias»(5/11/2008), afirmou que a Igreja «está em toda a parte e meteu-se nas nossas vidas e não quer sair». Segundo o escritor ela “tem uma obsessão moldadora”.

Portanto, não tomando a religião cristã pela alegoria da caverna de Platão( que glosou noutro romance), isto é, pelas sombras, reinventa-a em algumas realidades teológicas que são conteúdo incontornável do Cristianismo. É inegável que a sua boa escrita no plano científico da crítica literária, não sejamos preconceituosos, surpreende.

Evidenciando conhecer a Bíblia, não o poderemos negar, o autor do «Evangelho Segundo Jesus Cristo» gostaria de «desmitologizá-la» como em certo sentido o fez Rudolf Bultmann, o téologo, no que concernia aos Evangelhos. Como se estes fossem um tratado de mitologias que era necessário ajustar ao mundo moderno, usando para tanto um programa de desmitologização do evangelho, por exemplo, por em dúvida factos da vida de Cristo. Por vezes de subvertê-los, porque não quer nada de sobrenatural e não pode basear-se em outra explicação que não seja o seu ateísmo militante.
Desta forma, no seu Evangelho Segundo...coloca um facto central do Cristianismo, Cristo na Cruz.

Todavia, mistura-lhe um acontecimento diverso e doutra ocasião, a voz do Pai Celestial fazendo-se ouvir entre nuvens «Este é o Meu filho amado em quem me comprazo», e, por fim, altera todo o evento expiatório da Salvação, invertendo e mutilando uma das mais fundamentais palavras pronunciadas na cruz por Cristo: “Homens, perdoem a meu Pai, porque Ele não sabe o que está a fazer.”

Aqui está uma inversão blasfema, um reducionismo da crucificação a um mero caso de equívoco, uma humanização absurda do Divino. A qual pretende colocar aqui o problema da humanização da Divindade ainda que seja através de metáforas sob a capa da literatura. Há na realidade, escreveu alguém, no escritor português José Saramago, uma fonte vasta de inquietantes questões e esse livro destinava-se à problematização de algumas delas, como: A literatura humaniza o Divino ou diviniza o homem? Os textos bíblicos são ditames santos ou literatura santificada?

Mas é precisamente nesta área que Saramago gosta de elaborar ficcionalmente. Gosta de embaraçar os sentimentos de alguns leitores e de estabelecer contrastes. E o que pensa ser mito, prefere destruí-lo e reconstruir com outro mito, a que chama, em alguns casos, metáfora.

Era desta capacidade de Saramago para o cambio de valores, para lograr estabelecer inversões, para a efabulação e subversão de realidades enraizadas no património cultural e religioso dos cristãos, estejam estes no Leste ou no Oeste, que se falava com muito ruído no ano de 1992. O barulho aconteceu quando o romance de José Saramago Evangelho segundo Jesus Cristo foi cortado da lista dos concorrentes ao Prémio Literário Europeu, pelo Subsecretário de Estado da Cultura de então, Sousa Lara. Este nem teve sequer necessidade de recorrer a um dos Salmos(53,1), onde se afirma que «o insensato diz no seu coração: Não há Deus».

Pode ter sido um acto a roçar uma censura, admitimo-lo nessa altura, mas não tão execrável quanto isso, tomando em linha de conta as explicações do governo da época: "A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os." A verdade é que alguma coisa do que escreve e diz o autor de Ensaio sobre a Cegueira, longe de unir, divide.
De resto, como escritor, é a sua marca de água. O tradicional anúncio do Prémio Nobel feito pela Academia, que caracteriza autor e obra galardoados, disse em 1998 acerca de Saramago, que se tratava de um romancista que “com parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia continuamente, nos permite apreender uma realidade indefinível".

Comecemos pelo fim, pela morte, no seu conceito judaico-cristão. O filósofo inglês Bernard Williams, o mais importante da filosofia da moral do século XX, argumentou um dia que a vida eterna seria tão entediante que ninguém podia aguentar. De acordo com ele, a constância que define uma eterna auto-existência implicaria um infinito deserto de experiências repetitivas. Baseou-se numa peça teatral de referência de um autor checo da década de 20, Karel Cepek, que criou uma personagem Elina Makropulos, de 342 anos, que tendo bebido o elixir da vida eterna desde os 42 anos, opta por deixar de tomá-lo e morre. Ambos, dramaturgo e o filosofo moralista defenderam o chamado tédio da imortalidade.

As Sagradas Escrituras, de uma forma lapidar, estabelecem que ao “homem está destinado morrer uma vez, vindo depois disso o juízo”, o apóstolo Paulo apontou a causa, ao dizer que o “salário do pecado é a morte”. José Saramago preferiu efabular sobre o fim inesperado da Morte. Dir-se-ia a morte da Morte.

Acercando-se deste aspecto da desconstrução de um facto, a revista The New Yorker publicou no final de Outubro uma crítica literária à tradução do livro “Intermitências da Morte” nos Estados Unidos. Segundo o articulista, a obra resume aquela tese de Williams segunda a qual a vida precisa da morte para fazer sentido - a morte é apresentada como o período negro que ordena a sintaxe da vida. A ironia do titulo da peça jornalística “Death takes a holiday" ("A morte tira umas férias") em conjunto com a simplificação do titulo da obra traduzida de Saramago, "Death with Interruptions", traduzem o sentido irónico e que altera a ordem ou o estado de coisas que o escritor utiliza para perverter um conjunto de dogmas que, partindo da ideia da morte, valorizam valores doutrinários da religião cristã.

Em síntese, entre outras finalidades de carácter literário, ficcional, o ataque a esse conjunto de dogmas não é a menor. As funções da igreja, a doutrina da ressurreição, a utilidade da pregação, etc.
Sem margem para dúvidas, a páginas 21, escutamos a conversa telefónica entre o «primeiro-ministro» e a «Eminência»: «Sem morte, ouça-me bem, senhor primeiro-ministro, sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja:.. como lhe veio à cabeça que deus poderá querer o seu próprio fim».

Saramago tenta reescrever a história do Sagrado sob o prisma do fantástico e da ficção especulativa como se fossem os mais prováveis acontecimentos. «Dá-lhes uma sólida interpretação literal»- assevera o crítico da revista nova iorquina.
Nós acrescentamos: pelo próprio ateísmo em que vive e escreve Saramago, ainda que não possa fugir a escrever muitas vezes o vocábulo «Deus», seja em maiúsculas ou letra pequenina.

Friday, November 21, 2008

O Peregrino, romance de conduta


O Peregrino não é um poema nacional, daqueles que referenciam uma literatura como O Paraíso Perdido, Folhas de Erva ou Os Lusíadas. É, no entanto, um tratado épico da vida e da viagem agónica do Cristão.

Trata-se da efabulação da conduta desta personagem peculiar – o Cristão-, que ultrapassa os próprios catolicismo romano e protestantismo.

Simplificando as coisas, é uma mistura enciclopédica repleta de rótulos morais, de conduta ética, moral, social, religiosa, não se referindo estritamente ao passado.

No actual pós-modernismo ainda é capaz de causar perplexidades? De abrir fissuras na alma humana, que é às vezes um deserto? De estar para além dos livros de auto-ajuda? Sem dúvida, e não apenas nos meios cristãos, sobretudo evangélicos, mas nos domínios eruditos da história da literatura universal.

Não pensando escrever um romance, João Bunyan criou, contudo, um universo literário em que elabora personagens para a Fé e reune as realidades com as suas visões como autor. Por essa inesperada forma e conteúdo foi considerado o maior ficcionista inglês do século XVII. Na escrita do seu livro, Bunyan incluiu a totalidade de uma vida inteira de observação apaixonada dos homens e das mulheres, e a tal dimensão chamar-se-á universalidade, cosmovisão, romance psicológico, etc. Neste âmbito, está estruturado no plano vertical, ou seja, vai das profundidades às alturas do recorte psiciológico das suas várias personagens, na vivida galeria de tipos que criou.

Um original historiador das Literaturas como é o autor de O Cânone Ocidental, Harold Bloom, escreveu «que as visões de Bunyan actuam sempre sobre o narrador». O que nos parece querer dizer, salvo melhor opinião, que a experiência narrada em A Progressão do Peregrino foi de ambos, muito mais do crente que do romancista.

Desde a abertura do romance até ao momento decisivo para o qual a acção é conduzida, estamos diante de um narrador-personagem nada neutro « E, no meu sonho, alonguei a vista por toda a extensão do vale», que comenta, de forma metafórica, a fuga à ira vindoura, « o seu olhar desvairado volvia-se para um e outro lado, como em busca de um caminho para fugir », e o percurso de uma vida que começa com a conversão a Cristo, e o trajecto da carreira cristã dificultada pelo ambiente circunstâncial mundano, «Esta furiosa luta prolongou-se até perto do meio-dia, hora em que se esgotaram as forças de Cristão, que, por causa das feridas, ia enfraquecendo cada vez mais. Apolião não deixou de aproveitar esta vantagem…» (1)

É, por isso, The Pilgrim’s Progress, a crónica do homem crente que atravessa todos os tempos desde o Novo Testamento. E o padrão literário sobre o qual o livro se estruturou foi a alegoria, mas tratada com tal realismo que a transfigurou em romance.

Com efeito, foi escrito a partir de um padrão bíblico como uma alegoria religiosa, como um panfleto ou um sermão, escreveria Walter Allen na panorâmica histórica O Romance Inglês (2). E para este antigo catedrático, essa panorâmica inicia-se justamente com o Pilgrim’s Progress, o que assim eleva o romance de Bunyan ao patamar das obras fundadoras.

Em Portugal foi traduzido e editado pela Livraria Evangélica, em 1913, com certeza pela primeira vez, sob o extenso e significativo título O Peregrino ou a viagem do cristão à Cidade Celestial debaixo da forma de um sonho.

Há nesta obra um padrão definidor da sua origem, da sua base de construção literária. Esse padrão foi a Bíblia, designadamente a tradução de John Wycliffe, no século XIV, e, posteriormente, a de Tyndale que a popularizaram, tornando-a acessível. Tanto ao povo como a Shakespeare foi dada a oportunidade de ler a Bíblia, como foi dada a possibilidade de ler um livro, O Peregrino, conduzido por ela e que ao mesmo tempo a introduzia na literatura e aplicava na viagem do ser humano e do crente, neste mundo.

O PADRÃO

O Peregrino é por assim dizer uma aplicação hermenêutica na forma da ficção de um tipo de literatura, o romance, que nascia na Inglaterra depois do teatro de Shakespeare e a par da poesia considerada moderna (Romantismo), cujo fundador apontado por muitos foi Woordsworth.

Ao situar todo o seu pensamento em referência à Bíblia, é dotado de um sentido agudo da narratividade, do ritmo romanesco e, simultaneamente, da construção dramática. Isto explica o seu sucesso ao longo destes três séculos.

O padrão teve por base as leituras de Bunyan, e, assim, dentro do próprio romance baseou na leitura de livros edificantes sobre moral e da própria Bíblia, o ponto de partida da personagem, o Cristão, para todos os efeitos um anti-herói. De facto, lemos na pág.7 que a personagem procurava «na oração e na leitura lenitivo para tão indescritível dor.»

A personagem da obra-prima de Bunyan, como um anti-herói, marcha contra-cultura, estabelecendo uma comparação literária por contraste. Poderia ser, sem dúvida, o anti-Quixote, colocado nesse enredo dos mais antigos da literatura, a Viagem. Há algum humor pícaro sub-reptício no conteúdo do romance de Bunyan, mas não excessivo, contido dentro das balizas rigorosas do sentido espiritual. O Quixote lutou contra os gigantes (moinhos de vento), o que transporta em si a ironia da imaginação e da ilusão de óptica; o Cristão luta contra o Apolião, que é uma figura de pesadelo, um monstro; e, no decurso da viagem, cruza-se com figuras realmente irónicas: o Loquaz, o Próprio-Interesse, o Amor-ao-Dinheiro, o Volta-Atrás. E compara (na pág.154) a ingenuidade a «um pinto mais esperto que foge ainda pegado à casca ».

Ao começar com uma alegoria, vai abrir o caminho e preparar o leitor para uma sucessão de alegorias. O narrador Bunyan, pregador baptista no período da restauração dos Stuarts que privilegiavam os anglicanos e que por isso foi perseguido e preso, refere-se assim à sua prisão: «caminhando pelo deserto deste mundo, parei num lugar onde havia uma caverna». Nela adormeceu e teve um sonho.

O ENREDO

À estrutura narrativa do conto ou do romance, chama-se enredo. O enredo d’O Peregrino não é amplamento aberto, isto é, não se trata de uma literatura popular, mas, também, não é de todo uma obra fechada nem tão-pouco esotérica, só inteligível pelos conhecedores da Bíblia. O seu realismo é compreensível porquanto fala da vida do homem e da sua vital relação com Deus. Mas nem por isso é um livro místico.

Desconstruindo a complicação onírica que reside nos sonhos, e que séculos mais tarde Freud viria a explicar, sem misticismos Bunyan coloca os leitores perante o seu sonho de autor-narrador com o sonho da sua personagem. A estrutura do romance é toda ela o sonho que se torna realidade, pelas vivências e pelo discurso todo bíblico.

Criou uma linguagem nova, justamente porque no entendimento da critíca literária não estava esterilizado pela cultura, como p.ex. John Milton, João Bunyan tirou partido da sua incultura, as suas observações são o fruto da pureza cristã e iluminada pelo Espírito que estava nos seus olhos, com que viu a realidade do homem já considerado moderno, a caminho da angústia, da solidão e do desamparo espiritual.

Problemas que o existencialismo cristão de Kierkegaard estabeleceu em definitivo dois séculos depois de Bunyan.

Este inventa palavras, descreve paisagens, fixa pormenores, faz diálogos paradigmáticos, alegoriza a viagem do homem crente em luta permanente contra o pecado, tudo isso ao serviço da alegoria torna a sua obra realista, contemporânea e autêntica.

Foi como se tivesse ouvido uma voz do céu a dizer-lhe escreve a visão, e esta era a realidade estruturada num padrão único, que Bunyan acabou por criar dando inclusíve início ao romance inglês, colocando o percurso de O Peregrino nesse campo e muito para além dos chamados conduct books, ou livros de cabeceira que o puritanismo e o quakerismo promoveram.

Bunyan faz também integrar na estrutura do seu romance, o enredo comum à época, as Viagens. Em O Peregrino, porém, o autor faz o seu anti-herói partir de uma cidade alegórica: a cidade do Mal, de onde foge, rumo à cidade de Deus ou Cidade Celestial.

Aconteceu o mesmo na vida do autor, que teve uma juventude dissoluta até aos vinte anos. Com esta idade casou com uma jovem fortemente piedosa, esta levou na bagagem literatura devocional, o que contribuiu para converter Bunyan num pregador de sólido arcaboiço moral, que abriu toda a sua alma para os valores puritanos. Fê-lo com convicção e com o risco da própria vida, ao contrário do seu sucessor imediato no romance inglês, Daniel Defoe, que possuia apenas um cantinho na sua alma para esses valores, apesar de ter escrito Family Instructor- uma temperada ficção em tom religioso na qual o autor do Robinson Crusoé dá exemplos de moral aos membros da família.

No meu entender, Crusoé trata da epicidade da solidão, numa ilha transformada em habitat. Ao contrário, o Cristão de Bunyan é o épico da vida peregrinada entre outras gentes, outras vozes, neste mundo, de um modo que chega a ser fantástico.

ÉPICA FANTÁSTICA

A épica fantástica propõe-nos a construção de um mundo paralelo no qual a narrativa se centra em relatos que devem reunir dois elementos essenciais: devem ser colectivos, sobre povos, hábitos, condutas morais, e devem possuir grandeza heróica. Teoricamente aplicável hoje ao romance fantástico, estas características não faltam a O Peregrino, sobretudo tomando em linha de conta o século XVI do dealbar de um tipo de literatura como o romance.

O universo e as personagens alternativas que João Bunyan nos propõe em O Peregrino, não se conheceram antes nas tradições orais, nem estão presentes nas posteriores literaturas, mesmo naquelas que fizeram do fantástico a estrutura da sua narrativa, como a literatura sul-americana da segunda metade do século XX.

Todavia, a épica fantástica pode ser descoberta no romance, onde os relatos são heróicos e nos colocam perante o enfrentamento entre o Bem e o Mal, mas sem magia. E essa luta já vem de um «lá longe», de antes da chamada idade da água.

E quando essa luta universal entra no domínio do real de uma vida, no seu quotidiano, ainda que a partir de um sonho, e se estrutura num romance de vida que tem de facto existência, a vida do Cristão em qualquer tempo, é assim a realidade a entrar na ficção. Ainda que através da mais estranha das proveniências e pela mais inesperada das formas. Através de uma obra-prima chamada O Peregrino, que une a ficção e a experiência.
____________________________
(1) - Págs. 82, 15 e 78, respectivamente. «O Peregrino, A Viagem do Cristão à Cidade Celestial». Imprensa Metodista, Brasil, 7ª edição, 1955.
(2) –O Romance Inglês, Walter Allen, Livros Pelicano, Ulisseia, Lisboa, 196?

Saturday, November 15, 2008

O beijo de Caravaggio


E um beijo rompeu as cordas
do silêncio
caiu na noite, caiu no rosto
como uma mentira, como uma estrela
cai no rotundo deserto

Um beijo soa do fundo, com pressa
um beijo astuto
dissimulando a lâmina
que vem do coração

nessa noite o ar
amacia a face
de Cristo, confiante
daquele beijo triste.

25-10-2008

Sunday, November 09, 2008

A torre da igreja


A torre da igreja cresce
na aspiração dos céus
estica-se a devoção rumo ao azul
nas imensas janelas há luz
colorida
e efeitos sagrados
o som cavo convida à reflexão
e talvez à culpa
a solidez da pedra amacia as almas
cansadas
e refugia-lhes os medos.

(Brissos Lino)

extraído de A Ovelha Perdida

Tuesday, November 04, 2008

Esboços (Homilética):

“MARIA”, O NOSSO NOME DITO POR JESUS
João 20, 16


Introd.- Neste vers. e no seguinte está vertida toda uma Teologia acerca da nossa relação com Deus através de Jesus Cristo. E o que Cristo conhece de nós próprios. Ao conhecer e nomear n/nome, conhece nossa identidade, quem somos.
Maria é um nome, corresponde a uma pessoa individual, ser humano na sua complexidade.
(Maria (Μαρία transliteração em grego do hebraico Maryam, Miriã ou Miriam מרים que em hebraico significa "contumácia" ou "rebelião" - Ex 15:20 - cuja raiz é מרה "rebelde")
Com os seus receios, dúvidas.No plano social, uma desconhecida, mais uma pessoa sem importância colectiva. Mas Cristo sabia o seu nome: “Maria”. SALMO 139,15-16

1.O ACONTECIMENTO
1.1-Apreciar a contextualização da ocorrência
Maria chora- desgostos, angustia e sofrimento do ser. Vs.11.
Maria olha para sobrenatural sem o reconhecer, Vs. 12 – a natureza carnal do ser humano não entender as coisas espirituais. A névoa d/lágrimas/aflição/não deixa ver grandezas d/Deus.
Maria perplexa, perdida – o ser com dúvidas, sem saber o que fazer para encontrar o Salvador Vs.13 e 14 O Evangelho diz que olhou para Jesus, não o reconheceu. Os homens tacteiam na religião, ouvem falar da Palavra de Deus. Mas não O reconhecem diante das suas vidas.

1.2 –Maria confunde JESUS com o jardineiro. Vs.15
Ao longo dos séculos/mormente no 19 e 20 confundiu-se JESUS e Sua actividade salvadora com um: Profeta, um Justo, um leader religioso fundador Cristianismo, um revolucionário q.antecipou o igualitarismo, um radical q. sobrevalorizou os pobres. Poucos afirmaram: És o CRISTO, o F.do D.vivo Mat.16,16

2.”MARIA”, JESUS CONHECE NOSSO NOME
2.1 – Vs. 16 Nome, identidade, necessidade. Jesus ao chamá-la assim, fê-la perceber que não a perdera de vista. Ela enganara-se a Seu respeito: Hortelão; Jesus não se equivocou sobre ela/sobre o Ser humano.

2.2-JESUS compreendeu a confusão de Maria. E pronunciou o seu nome com voz redentora, de intimidade. Pronunciou o seu nome/nosso nome para no fazer descansar: Isaias 43,1-2

2.3-A menção do nome de Maria/nosso nome: - trouxe p/plano espiritual o que em Israel, o sumo sacerdote fazia: os nomes das tribos de Israel estavam nos s/ ombros e coração. Ex.28,9
Assim n/nomes estão no coração do n/Sumo Sacerdote e no de Deus-Pai. Isaias 49,16

3. PROVA DE CRISTO RESSUSCITDO
Jesus revela-se e revela o Pai / a nossa filiação/do homem e mulher crentes e salvos:
Vs.17

Friday, October 31, 2008

É a hora!



Embora ainda não esteja no site da prestigiosa revista semanal de economia, já está em release divulgado pela publicação. "Os EUA devem se arriscar", é o título, segundo o texto de divulgação. "Apesar de todas as deficiências da campanha, tanto John McCain quanto Barack Obama oferecem esperança de redenção nacional. Agora, os EUA devem escolher entre eles. A Economist não tem direito a voto, mas, se tivesse, votaria em Obama." Mais adiante, a publicação faz ressalva: o apoio é "sincero", mas reconhece que o nome é um "risco".
"Dada a inexperiência de Obama, a falta de clareza em relação a algumas de suas crenças e a perspectiva de um Congresso predominantemente democrata, votar nele é um risco". Mas, conclui, "um risco que os EUA deveria tomar, dado o caminho difícil que se apresenta adiante."

Via Pavablog

Saturday, October 25, 2008

Lusitania

Antes da pátria já havia os rios
tão longos como os olhos do Infante.
Veio sem nome e com vestes
arrancadas aos lobos, lares amaciando
as pedras, fogos que são ouro
a subir das cinzas.
Antes da pátria já havia a terra
tão pequena
como os nossos olhos hoje.

Tuesday, October 21, 2008

Lições de tauromaquia para lidar a Crise


As vacas de Basã e o touro de Wall Street

Em Deus e o Mundo dos Negócios, Paul Stevens, autor também de A Espiritualidade na Prática, lembra uma história conhecida, especialmente do público norte-americano, que começa com a frase “você tem duas vacas”. Ele cita Richard Higginson em uma abordagem sobre investimentos, em seu livro Questions of Business Life [Questões da vida de negócios]. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Feudalismo: Você tem duas vacas. O seu senhor fica com parte do leite.
Fascismo: Você tem duas vacas. O governo fica com as duas, contrata você para cuidar delas e vende o leite para você.
Comunismo: Você tem duas vacas. Você tem que cuidar delas, mas o governo fica com todo o leite.
Capitalismo: Você tem duas vacas. Você vende uma e compra um touro. O seu rebanho se multiplica e a economia cresce. Você vende o rebanho e se aposenta com o lucro.

Capitalismo segundo a Enron [ou, atualizando, segundo as “Instituições Financeiras” em Wall Street]: Você tem duas vacas. Vende três para sua companhia de capital aberto usando cartas de crédito abertas pelo seu cunhado em um banco. Em seguida, faz um acordo para quitar a dívida com participação acionária, e pode, então, adquirir todas as quatro vacas de volta, com isenção de taxas para as cinco vacas. Os direitos sobre o leite das seis vacas são transferidos por meio de um intermediário para uma empresa nas Ilhas Cayman, que pertence secretamente a um dos acionistas majoritários, que vende os direitos de todas as sete vacas de volta para a sua companhia de capital aberto. O relatório anual da “Instituição” aponta que a companhia possui oito vacas, com opção de compra para uma nona.
E, por falar em vaca, lembro-me também das de Basã, gordas e satisfeitas, que nos foram apresentadas por Amós (Am 4:1). Com a palavra, o próprio: “Eu sei das muitas maldades e dos graves pecados que vocês cometem. Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais” (5:12). “Está chegando o dia em que mandarei fome pelo país inteiro. Todos ficarão com fome, mas não por falta de comida, e com sede, mas não por falta de água. Todos terão fome e sede de ouvir a mensagem de Deus, o Senhor” (8:11).

Fonte: Ultimato.
via A Ovelha Perdida

Saturday, October 18, 2008

Andeiro (2)

(Pompeia, Setembro 1994)










À espera dos actores, em vão
chamamos dos braços da madeira
chamamos do fundo
de nós mesmos
um grito espesso, de cinza
nas gargantas.

Thursday, October 16, 2008

Sylvia Pl(de)ath


Quando meteu a cabeça no forno de gaz
como um leão caindo sobre a presa
todos os poemas estavam prontos
dirigidos
para a morte sobre a mesa
Ela fê-lo de novo, e de novo
toda a manhã escureceu
a sua pele brilhante e o cabelo
como um sol loiro.

(poema reescrito, libelo contra o suicídio)

Tuesday, October 14, 2008

Restos de Noite

Restos de sono na cara
restos de noite nas pálpebras
e de sonho por detrás delas

as olheiras são pequenas bolsas
de canguru
que carregam desgostos

os sulcos do rosto cansado
fazem velho o acordado
de olhos raiados
e hálito vicioso

há manhãs inconvenientes que
batem
com força
antes do tempo.

(Brissos Lino)
in A Ovelha Perdida

Sunday, October 12, 2008

"E o poeta se fez triste..."






Brissos Lino


Escrevia João Tomaz Parreira, em jeito de nota de pé de página, no seu blogue “Papéis na Gaveta”, a 27/7/2008:

“Nunca fui um homem de alegrias excessivas. Com algum sentido de humor, sim. Ironia quanto baste, como a do profeta Elias, na mesma linha que seguiu da ironia alimentada pelo conhecimento sobre as religiões e os rituais que caminham pelo absurdo. Mas foi preciso chegar aos 61 anos para ser triste.

Triste como Charles Dickens ante a realidade que estampou no seu livro Tempos Difíceis/Hard Times, em que as crianças e os trabalhadores explorados eram as vítimas;
triste como Ezra Pound, o poeta dos Cantos, diante da Usura;
triste como o Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa, ao ver o mundo com o pessimismo do grande poema A Tabacaria, como se tivesse razão e, infelizmente, teve-a.

Tudo do domínio da Literatura, dirão. Mas quem poderá ter a veleidade de se afirmar triste, com aquela tristeza que só é divina, de Jesus perante a cidade de Jerusalém?”

São palavras duras, convenhamos, que expressam alguma desilusão sobre o mundo e os homens. E contudo JTP, como cristão convicto que é, sempre soube que os homens estão habitados pelo pecado, o qual gera a morte, no dizer de S. Paulo, e que o mundo não está em boas mãos, visto que se encontra “no maligno”.

Mas talvez o desconforto e a surpresa com que se diz triste agora, aos 61 anos, depois de boa parte da vida vivida, seja mais com o que sente do que com o que sabe. A racionalidade funciona a um ritmo muito mais acelerado do que as emoções.

Por outro lado, a alegria vem e vai. Pode gerar-se quase instantaneamente, apenas desencadeada por um factor fortuito, que estimula a libertação de um fluxo mais significativo de adrenalina.

Já a tristeza anda mais devagar, precisa de tempo para se consolidar, instala-se mais discretamente mas traz consigo as malas e faz-nos companhia durante mais tempo. Requer introspecção, distanciamento e uma postura mais reflexiva, característica nos poetas, mas também no ser humano em geral, da fase da meia-idade para a frente.

Contudo, é curioso observar como JTP fala da sua tristeza. Parece fazê-lo com pouco à vontade, justificando-a cuidadosamente com as suas desilusões, como se tivesse algum acanhamento por se sentir assim. Daí talvez a marcação de distância com Jesus, ele sim, tinha todo o direito de se sentir triste perante Jerusalém. JTP, um simples mortal, não ousa estar triste como o seu Mestre. Quer que fique bem claro que não se sente nesse direito.

Já estou a ouvir algumas cabeças, porventura escandalizadas, a estranhar esta confissão honesta, que vai muito mais na linha da tradição literária (e também portuguesa, como no caso dos “vencidos da vida”) do que na postura de algum cristianismo plástico, de sorriso artificial e tontamente optimista. Como se não fossemos todos de carne e osso, e os sentimentos não fossem legítimos e uma evidência.

A chamada “geração de setenta”, no séc. XIX português, ficou conhecida como “os vencidos da vida”, cujo lema foi: “Para um homem, o ser vencido ou derrotado na vida depende, não da realidade aparente a que chegou – mas do ideal íntimo a que aspirava”. Neste sentido não somos todos “vencidos”? E não temos todos motivos para “sermos tristes”?

JTP sabe bem onde encontrar conforto pleno para o seu sentimento de tristeza. Sabe bem quem nunca o desiludirá. Mas sejamos honestos. É exactamente assim que nos sentimos todos em certos momentos, se acaso vivemos com os pés no chão.

A vantagem do que confia em Deus é que, sem tirar os pés do chão, pode manter a cabeça no céu. E isso permite que a nossa tristeza não seja um livro fechado.

Outubro 2008

Monday, October 06, 2008

Biografia de Bolso

A veces se le oye cantar cosas de niño
Gabriel Celaya



Respira numa pequena cidade o mesmo ar
por onde passam os sinos
e os pássaros que chamam os olhos
para cima das árvores da rua principal
na pequena cidade onde vive e que teima
em ser provinciana, toda a gente
se conhece pelo modo como diz o nome
e o rosto de hoje foi o que se viu ontem
Vive numa pequena cidade
cuja gente se preocupa com o buraco
do ozono e o da rua em que reside
Passa algum tempo em casa devagar
as janelas raramente o vêem
sempre que cruza os olhos por um livro
é para paralisar a eternidade
também cruza os braços para se defender
do coração inconfidente
Alguns anos escreveu poesia
com o alheamento das estrelas
não conseguiu entrar ainda na fórmula
azul que é o céu
mas conseguiu deixar aos filhos
como herança dois ou três editores
e espera viver alguns anos ainda
para levantar a cabeça.

Sunday, October 05, 2008

A Religiosidade em Vergílio Ferreira

Notas tiradas de um Conferência
Procurar Deus, a Fé e a religiosidade nas 22 obras de ficção, nos 12 livros de ensaio e 11 diários de Vergílio Ferreira, será obra homérica. Será contudo acto legitimado por um conjunto de razões, entre as quais temos os próprios termos definidos pelo autor no que concerne ao invisível.
Estará, de resto, na linha dos teólogos do século XX que acharam normal interrogar a literatura para nela encontrarem um testemunho sobre a fé e sobre a descrença, sobre o significado da existência do Homem e de Deus, ou sobre a ausência divina.

Parte da vastíssima bibliografia de Vergílio Ferreira continua, também por isso, a ser impar, na procura da luz e da beleza, obra de epifanias sem obsessões ideológicas (do ponto de vista das ideias políticas ) como primeiro neo-realista, e a seguir pelo rigor e originalidade com que na história da literatura portuguesa da segunda metade do Século XX, inscreveu a metafísica.
Assim, é sempre com alguma frequência que se liga a palavra romance à palavra problema, «romance de problema», disseram alguns críticos, quando se trata de caracterizar a obra romanesca do nosso escritor.

A natureza dos circunstancialismos em que se encaixam as suas personagens, a natureza do conteúdo, do carácter, do temperamento, do comprometimento, das necessidades e das grandes motivações das mesmas, leva-as a um permanente questionar.
A verdade é que, quando se procura respostas exclusivamente humanas sem Deus no plano para a vida diária, a vida com preocupações existenciais, o acto de perguntar no ser humano começa por uma escala de valores com grandes esperanças que desemboca na frustração, uma das personagens-chave do romance vergiliano afirma que Deus lhe interessou como ponto de partida e não como meta.
No narrador-autor do romance APARIÇÃO será aí que indagaremos da religiosidade vergiliana, embora por entreposta entidade ficcional como seja a personagem-sujeito na primeira pessoa.
Na verdade, Alberto, o protagonista-narrador, não se distancia da sua narração, como compete de resto a um narrador que estabelece a trama, a intriga da sua própria história. Diria que Alberto Soares se criou a si próprio como personagem, a partir das várias aparições que desde logo lhe conseguimos apontar, desde a primeira página numa espécie de «corrente de consciência», ou monólogo interior:
- A Aparição das coisas, a tomada de consciência dos objectos,
- A Aparição do «nous», do pensamento, das ideias,
- A Aparição ontológica do Ser,
- A Aparição de si a si próprio, a epifania do Eu,
- A Aparição do humano contra o divino,
- A Aparição do absurdo da morte. («A iluminação da vida perante a evidência da morte»)
E no culminar de todas estas "aparições" acabou por afirmar que «Deus se me gastou». Ora nós sabemos que ao colocar Deus como problema e não como solução, essencial, é o Homem que se gasta a si próprio.

Wednesday, October 01, 2008

Tuesday, September 30, 2008

Mau Uso do Grego pelas TJ


A chamada Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, da Sociedade Torre de Vigia, sabe e proclama que «é um assunto de muita responsabilidade traduzir as Escrituras Sagradas dos idiomas originais.»
Nos seus milhões de escritos, livros e revistas, as Testemunhas de Jeová afirmam os princípios: «Defendamos lealmente a Palavra Inspirada de Deus» (in Sentinela, 1\10\1997).
Para essa alegada defesa editam livros tais como «O que a Bíblia realmente ensina?», «A Bíblia-Palavra de Deus ou de Homem?».

Esperaríamos que na sua praxe agissem em conformidade. Mas não, nem é esse o anelo vital da sua «evangelização», que é levada a cabo pelos institucionalmente chamados «publicadores de congregação». Mulheres e homens que «evangelizam» e ensinam publicamente, porta a porta e nas ruas, o que designam como « Boas Novas do Reino».
Entretanto, desenvolvem uma «pregação» determinada também pelo seu manual enciclopédico, o Estudo Perspicaz das Escrituras ( do inglês Insight on the Scriptures), editado em 1988, composto por vários volumes, que são a principal referência e objecto de consulta sobre as palavras bíblicas usadas como ajuda ao entendimento da Bíblia.
Daí que sem qualquer crítica moral aos membros da Organização (conheço bem alguns), e muito menos preconceito ético ad hominem, não podemos porém deixar de sublinhar que os 6.957,852 (1) membros activos, envolvidos publicamente no trabalho das Testemunhas, cujos corações cheios de pensamentos sobre como lidar com Jeová estão todavia vazios do Deus revelado por JesusCristo, embora passem uma boa parte da vida alegadamente a «estudá-lO».

Com efeito, para "estudarem" Jeová usam todos os meios. No primeiro volume do Estudo Perspicaz... pode ler-se que a ajuda vem através de se «ajuntar de todas as partes da Bíblia os pormenores que se relacionam com os assuntos em consideração.» E algo que, pedagogicamente seria útil se não fosse um dos fundamentos para o Erro, «trazer à atenção palavras das línguas originais e seu sentido literal ».

Obsevemos algumas dessas palavras. Veremos apenas duas, de extrema importância, porque a mudança que as Testemunhas de Jeová introduzem, muda todo o paradigma do significado do vocábulo conhecer, na frase absorver conhecimento de Deus.

Lê-se assim na versão da TNM das Escrituras Sagradas, Evangelho de João, 17, 3: «Isto significa vida eterna, que absorvam conhecimento de ti, o único Deus verdadeiro».
Nas mais variadas versões, revistas e corrigidas, da Bíblia Sagrada de Almeida e até da velhíssima versão da Vulgata do padre Figueiredo, lemos, respectivamente:
«E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro» ou E a vida eterna porém consiste em que elles conheçam por um só verdadeiro Deus a ti. (2)

Numa exegese gramatical e depois teológica do texto bíblico, como genuinamente se impõe, devem aplicar-se as regras todas que compõem a interpretação do significado verdadeiro desse mesmo texto, ou de uma palavra-chave.
Semanticamente o termo conhecer, na Bíblia Sagrada, tanto no Velho como no Novo Testamento, implica intimidade, profundidade na relação com alguém ou alguma coisa. Não meramente um conhecimento intelectual e frio. Naquele sentido, o Deus da Bíblia deu-se a conhecer através de Jesus Cristo.

A língua bíblica do Novo Testamento possui um vocábulo para conhecer, que é, no próprio texto citado, gínomai ou ginosco ( ou gignósko), que são, na sua forma, um verbo.
Deste derivam conhecidas palavras: gnose, um substantivo de onde se parte para outro, gnóstico, que afirmava um conhecimento espiritual, superior e esotérico. Já nesse tempo conhecer não era mero significado de conhecimento cultural, mas de conhecimento que dava sentido à vida humana.

O dicionarista bíblico W.E.Vine, em sua fundamental obra Vine’s Expository Dictionary (que as testemunhas de Jeová deturpam e usam no que lhes interessa), escreve que ginosko no NT significa «entender completamente». Também indica frequentemente a relação entre duas pessoas e a aprovação nesse relacionamento, Deus é conhecido do crente, e este de Deus.(vd.I Jo 2, 3-4).

Ora apesar de todo o sentido alegado de procurar a Verdade, os «tradutores» da Novo Mundo das Escrituras Sagradas, não reduziram apenas o vocábulo a um significado que jamais teve - de aprendizagem intelectual de doutrina ainda que sobre Deus - , mas também o subverteram a uma simples absorção de conhecimentos. Ou será que com absorvam quiseram significar consumam, gastem, sorvam, etc.? Como se de um duvidoso percurso escolar em que não existem certezas se tratasse.

O termo que o nosso texto bíblico apresenta, gramaticalmente, é uma enfática forma verbal de gínomai, isto é, ginóskosin, verbo na terceira pessoa do presente activo do plural.
A Tradução do Novo Mundo produz até o reducionismo da vida eterna, que segundo eles não É, apenas significa. Para as TJ significa uma tão só absorção de conhecimento intelectual, doutrinário até, de Deus, e do próprio Jesus Cristo, que Deus enviou - afirmação enfática de Cristo na Sua oração sacerdotal. Há que lembrar aqui outra observação linguística sobre o que os tradutores russelistas omitem (intencionalmente ?) do próprio texto grego: o termo verbal apesteilas, de apostello, enviar, apostolos, enviado.

Jesus Cristo disse que a vida eterna é o conhecimento intímo dos atributos divinos activos e morais, revelados pelo Espírito Santo, sobre Monon alethinon Theo (Único verdadeiro Deus), da relação filial do crente com Deus-Pai. A comunhão com Deus através de Seu Filho. E não apenas um simples aprendizado doutrinário. Nenhum leitor assíduo e mesmo estudioso da Bíblia e conhecedor cultural da teologia será filho de Deus, terá comunhão íntima com Ele, só por isso.
Infelizmente temos de pensar que as Testemunhas de Jeová estão neste barco.
(1)- In Estatística do Relatório Mundial das TJ do Ano de Serviço 2007
(2) -Bíblia Sagrada, seg.Vulgata Latina, Depósito das Escripturas Sagradas, Lisboa, 1909

Monday, September 29, 2008

A sagrada família

Ora Jesus amava a Marta
e a sua irmã, e a Lázaro
com um amor em marcha
pelo mundo errante

Marta passava a correr
os dias, passava incenso
e a água pela casa
preparava refeições
disponha a harmonia
dos pratos pela mesa

Maria escutava
com os rosto preso na beleza
das palavras de Jesus
A Lázaro lhe doía
imponente, no corpo
a sua cruz.

Monday, September 22, 2008

Thursday, September 11, 2008

A Poesia da Bíblia

Dou um salto quase místico
do hebraico
e descanso em pastos verdes

Envolto num lençol de fresca água
aos pés do grego vou cair

Depois que o salmo de Davi, depois que Job
cairam dos meus olhos
na mais lírica lágrima que tive.

15/2/97

Saturday, September 06, 2008

Ler Max Lucado?

BlockquoteMax Lucado ressoou a enorme maioria evangélica que apoiou a invasão e guerra do Iraque. Em um “prayer breakfast” com George W. Bush, pastores de várias denominações abençoaram as tropas que avançavam com tanques e aviões, lançando mísseis “inteligentes”. Milhares morreram e os púlpitos se mancharam de sangue. Como algum deles ainda consegue citar: “Bem-aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus”?
(Ricardo Gondim, via aqui A Ovelha Perdida)

Friday, September 05, 2008

A conclusão

O problema do mal - II, conclui-se Aqui

BlockquoteMas o principal problema levantado pela doutrina do pecado original, se reflectirmos um pouco, é ser profundamente desresponsabilizadora do indivíduo. Surge como uma fatalidade histórica, inerente à condição humana, e alheia ao domínio da minha consciência e carácter: os meus actos, palavras, pensamentos e omissões. Faça ou deixe de fazer, a culpa está sempre em mim, mas não é minha… é herdada dos meus pais. Que posso eu fazer? Infelicidade ter nascido humano… e ter tido um “pai” longínquo (ele sim, responsável) que me passou o ferrete do pecado.

Wednesday, September 03, 2008

Estudo à espera de continuação

O problema do mal - I, aqui in A Ovelha Perdida

BlockquoteMas faz sentido questionar uma tradição teológica cristã tão firmemente estabelecida desde Agostinho? A meu ver não só faz sentido discutir o pressuposto, como entendo que deve mesmo ser discutido, por imperativo teológico, para o aprofundamento da fé, por algumas razões que podemos considerar suficientemente relevantes.
(Continua)

Friday, August 29, 2008

O que estão a fazer à Igreja?

Ler trecho do livro (pdf)

BlockquoteLiberais, neo-ortodoxos, libertinos e neopentecostais, não escapam da escrita certeira de Augustus, cujo objetivo com a publicação de O que estão fazendo com a igreja vai muito além da simples (e saudável) polêmica. Seu desejo é fortalecer os que insistem em seguir a fé bíblica conforme entendida pelo cristianismo histórico. Sem esquecer as mazelas de conservadores, fundamentalistas e neopuritanos, Augustus traça um panorama do complexo cenário evangélico com a firmeza que lhe é peculiar.

Tuesday, August 26, 2008

"Papéis na Gaveta" (1)

Revista Novas de Alegria, Janeiro de 1965, segundo artigo publicado pelo autor quando jovem, há 43 anos.


Saturday, August 23, 2008

Os nossos sincretismos

BlockquoteBaseados numa noção universalista (católicos), numa ortodoxia doutrinária (ortodoxos), no nome de um fundador (luteranos), de um processo histórico (reformados), de uma forma de governo eclesial (presbiterianos), de um rito religioso (anabaptistas), de uma praxis (puritanos), de um nacionalismo (anglicanos), de uma doutrina (pentecostais), de um processo político (episcopais), ou até de uma recusa em admitir designação específica (irmãos), os cristãos foram levantando muros entre eles que os fizeram tornar-se escândalo para o mundo.Segundo Walter Waltmann, do Conselho Mundial de Igrejas (WCC), existem hoje “mais de 38 mil tipos de denominações cristãs diferentes, entre católicos, ortodoxos, anglicanos, metodistas, luteranos, baptistas, presbiterianos, pentecostais e neopentecostais” entre outros (1).

Para ler tudo em Rótulos

in http://ovelhaperdida.wordpress.com/

Friday, August 15, 2008

Atenas sem Igreja


Atenas Sem Igreja - Conferir no Portal da Aliança Evangélica


BlockquoteUma revista de referência internacional da teologia cristã evangélica como a Christianity Today sublinhou a importância do estudo sobre o apóstolo Paulo neste século XXI. Referindo comentários bíblicos e compêndios de teologia, trouxe a lume em Agosto de 2007 um extenso artigo, no qual a pregação de Paulo foi reavaliada e reafirmada e, também, acrescentada uma nova perspectiva sobre o apóstolo. Designadamente no que concerne à doutrina fundamental da Justificação pela Fé.
Como sabemos, não foi esta a pregação de Paulo em Atenas. Nem o apóstolo escolheu, por si mesmo, deslocar-se aí. Não estava nas suas prioridades apostólicas e missionárias.
Paulo poderia dizer como Demócrito(V a.C) «cheguei a Atenas, e ninguém me conheceu», como um sábio ignorado.

Thursday, August 14, 2008

Não podemos apagar a Imago Dei

Imago Dei

BlockquoteHá temas que são de desconfortável abordagem para um evangélico. Coisas que sempre se ouviram ensinar da mesma forma e que parece quase heresia questionar. Mas o facto é que a minha perspectiva de vivência cristã passa exactamente pelo questionamento permanente das bases da nossa fé, sob pena de ela se tornar uma tradição sem substância e deixar de ser um fundamento, uma certeza.Vem isto a propósito da condição que diferentes ramos do Cristianismo atribuem aos homens: somos apenas criaturas de Deus ou filhos de Deus?

Texto oportuno do meu amigo Brissos Lino, para ler ali em A Ovelha Perdida

Wednesday, August 13, 2008

Friday, August 08, 2008

Nota de pé-de-página (3)

A questão dos judeus com as Escrituras residia no facto de eles serem fiéis depositários das palavras de Deus.
Em parte por esse privilégio, séculos depois na Idade Média iriam criar a Cabala (o Kabbalah ), que é genericamente a Tradição, tudo quanto receberam dos seus antepassados. Explicações, máximas, rituais, mistérios.
Porém, antes de tudo isso, que se constitui como filosafia mística, muito anterior ao refúgio da cultura judaica após o ano 70 A.D. nas margens do Eufrates ou em Jamnia, os judeus receberam de Jeová as Escrituras.

Porém, ao exame das mesmas sobre o Messias, preferiram estabelecer um corpus filosófico esotérico para os iniciados. Antes, muito antes dos Talmud e Midrash, os Targums e os 613 mandamentos, Jesus Cristo afirmou-lhes «Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam », João, 5, 39
Com objectividade, o apóstolo Paulo perguntava, na base das vantagens do ser judeu, quando escreve a Carta aos Romanos( 3,1,2): «Qual é logo a vantagem do judeu?(...) Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas ».
Todos os acontecimentos da História Judaica vieram, antes e depois de Jesus Cristo, a dar razão a tal facto. Asseguraram tanto na História Bíblica como na pós-Bíblica - como gostam de dizer os historiadores do judaismo- a relação especial de Deus com o povo judeu.
Este povo é único no mundo e tem como história fundacional livros sagrados, pertencentes ao canon da Bíblia Sagrada, do Velho Testamento. Bastaria isso para fazer dele um povo importante, mas acresce ainda que Deus não lhe confiou apenas a história da relação única Consigo, na dimensão do Sagrado, mas também fê-lo depositário da Sua Palavra Sagrada.
Paulo coloca os privilégios nesse plano das vantagens que implicam em absoluto responsabilidades.
Responsabilidades tais que se mantêm e se reganham mesmo quando os judeus se convertem a Jesus Cristo. Fazemos aqui uma menção a uma oportuna recentíssima declaração da Aliança Evangélica Europeia sobre o Evangelho e os Judeus, segundo a qual - e citamos ipsis verbis - «Achamos deplorável que se usem enganos ou coerção no evangelismo(dos judeus), no entanto rejeitamos a noção de que é enganoso que os seguidores de Jesus Cristo que nasceram no povo Judeu deixem de se identificar como Judeus (e cita-se Romanos,11,1) ».
Com efeito, Deus não tem rejeitado o Seu Povo, independentemente da profética e histórica não aceitação do Messias de Israel em Jesus Cristo por parte dos Judeus.

O Tempo que passou (2)

Edição de Junho e Julho de 1966, respectivamente

Tuesday, August 05, 2008

O efémero

Uma paródia feita sobre um quadro de Edward Hooper: James Dean, Humphrey Bogart, Marilyn Monroe e Elvis Presley.
Cada um representando o seu próprio drama, que a memória de vidro exibe e esquece, simultaneamente. No mundo, a montra do efémero.

Sunday, August 03, 2008

Thursday, July 31, 2008

Canta um hino à minha alma


Marc Chagall, o poeta reclinado


Canta um hino à minha alma
Senta-te ao pé de mim
encosta
ao meu o teu ouvido
Ouviremos
os gestos das folhas
a pousarem na água
os pés
das ovelhas a silenciarem
a sombra
um hino para nossa alma
nos percorre
O pentagrama do coração
registará a música
das artérias coronárias
O coração baterá
ignorando a morte.

30-7-2008

Sunday, July 27, 2008

Nota de pé-de-página (2)

Nunca fui um homem de alegrias excessivas. Com algum sentido de humor, sim. Ironia quanto baste, como a do profeta Elias, na mesma linha que seguiu da ironia alimentada pelo conhecimento sobre as religiões e os rituais que caminham pelo absurdo. Mas foi preciso chegar aos 61 anos para ser triste.
Triste como Charles Dickens ante a realidade que estampou no seu livro Tempos Difíceis/Hard Times, em que as crianças e os trabalhadores explorados eram as vítimas;
triste como Ezra Pound, o poeta dos Cantos, diante da Usura;
triste como o Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa, ao ver o mundo com o pessimismo do grande poema A Tabacaria, como se tivesse razão e, infelizmente, teve-a.
Tudo do domínio da Literatura, dirão. Mas quem poderá ter a veleidade de se afirmar triste, com aquela tristeza que só é divina, de Jesus perante a cidade de Jerusalém?

Caravaggio

Conversão de Paulo, no caminho de Damasco.

Friday, July 25, 2008

Nota de pé-de-página (1)

A fundação da Cultura do Cristianismo pelo apóstolo Paulo julgamo-la adormecida no passado. Mas já se preparava para ser coluna no futuro.
Reconhecida pelas instâncias do poder romano(Actos 24,25) e pela curiosidade do espírito cultural grego (Actos 17 ), ajudaria a conduzir da Patrística à Reforma os pensamentos cristãos, e a despeito de muita dialética materialista no século XX, um autor como Harold Bloom teria que colocar Paulo como um autor bíblico fundacional a par de Dante e Shakespeare. Para o autor do Cânone Ocidental, Paulo esteve na base da ontologia do Ser.

Wednesday, July 23, 2008

Evangélicos em Portugal, 1984


Gerald Carl Ericson, Núcleo, Lisboa, 1984


BlockquoteEsforços Educacionais Especiais
(...)
A Associação Cultural Evangélica (Bara) tem procurado promover o estudo da cultura entre os evangélicos, sobretudo através da publicação da sua revista "BARA", desde o ano de 1978.»

Monday, July 21, 2008

Suicídio, Linha de Fronteira

Suicídio, Linha de Fronteira in Portal Evangélico da AEP
BlockquoteEntão, Saul tomou a espada e se lançou sobre ela.
I Samuel,31,4


Saul não foi um herói paradigmático, embora trágico, por isso a sua morte é sem louvor bíblico. Embora David tenha feito uma elegia para o Livro dos Justos, mas essa morte entra no acto deplorável e não recomendável do suicídio. E um suicídio levou a outro.
Algumas culturas muito posteriores iriam ver este acto de Saul e do seu escudeiro como uma maneira honrosa de escapar a uma situação de derrota e de vergonha.
Em todo o caso, a Bíblia Sagrada, sem julgar moralmente os suicidas, refere apenas quatro declarados actos de aplicação da morte a si próprio, sendo três de personagens marcantes: Saul, Aitofel e Judas Iscariotes. (...)

Sunday, July 13, 2008

Para memória passada

13 de Março de 2007

Novas de Alegria

Título de um jornalzinho dos Protestantes, ao tempo em que vivia no Alentejo profundo, junto a Espanha. Lia-o - ou antes - folheava-o no consultório de um médico para mim essencial: o que me trouxe à vida, do ventre de minha mãe, que Deus haja! As duas enfermeiras que recordo com toda a saudade, liam-no e porque uma delas era da 'seita', trazia-o para a sala de espera. E mal nenhum fazia, pois a mensagem era radiosa! Apenas a sociedade em geral não apadrinhava o grupo 'separatista', de resto limitadíssimo e apontadíssimo a dedo... Ai dos que eram protestantes: tinham o pessoal ortodoxo à perna; e por isso formavam uma pequena comunidade muito unida e fechada!Não sei porque me deu para escrever sobre isto, logo hoje. Talvez porque, em dia de trocar de carro, a alegria seja a nota mais dominante na vida de um simples agnóstico... (...) Que me compreendam e perdoem os editores da revista da minha amiga protestante!

(José Paracana, 64, autor do blog Artenosatos)

Pontes de Paris

Pontes de Paris, Nadir Afonso


As águas do Sena
são um manual
de arquitectura

de pontes
rectilíneas, em arco
no espelho
do rio, esculpindo
as águas, as pontes
multiplicam-se

sob um céu de vidro
pardo, parado.

11.7.2008

Wednesday, July 02, 2008

In "A Ovelha Perdida"

“A Igreja tem que tomar consciência de que hoje exerce a sua missão numa sociedade que não se identifica com ela, no sentido em que a Igreja não é a sociedade. No nosso caso, há uma maioria de católicos mas há também outros e isso faz com que a Igreja não possa situar-se no quadro da sociedade exercendo um antigo poder de influência e uma antiga relação Igreja/sociedade que já não existe”, indicou.
Cardeal-Patriarca de Lisboa, aos microfones da “Rádio Renascença”.


A reflexão do chefe da igreja católica em Portugal é honesta e correctíssima. Mas importaria acrescentar que a denominada “maioria de católicos” é uma maioria cultural e não religiosa. A maioria dos portugueses diz-se católica por uma questão de identificação cultural e de tradição familiar, mas não praticam, não conhecem a doutrina, em grande parte discordam de muita dessa doutrina, não são comprometidos com ela. E vão à igreja apenas nas cerimónias religiosas que funcionam como ritos de passagem (baptizados, casamentos, funerais).
Por sua vez, os “outros”, que tornam a sociedade heterogénea, em termos religiosos, apesar desta confissão (e pedagogia?) continuam a ser discriminados na dita sociedade, perante os poderes públicos, a comunicação social, e até a igreja dominante. Essa é a verdade. Mas é sempre bom ouvir intervenções pedagógicas como esta.
(B.L.)

Thursday, June 26, 2008

As Sagradas Escrituras não são mudas


«Se os textos não são interrogados, permanecem mudos», era a disposição geral no dizer de teólogos liberais, como Bultmann, perante a Bíblia. E tal interrogação, far-se-ia sob as formas mais diversas, sob um denominador comum: os métodos críticos histórico e morfológico.
Freud disse certa ocasião a Papini que ensinara «aos outros a virtude da confissão e afinal nunca pude abrir inteiramente a minha alma». Os teólogos liberais confessaram-se ruidosamente nos seus escritos, porque acharam que a Bíblia Sagrada estava muda diante das contextualizações que eram precisas- do seu ponto de vista- ser feitas na modernidade do Século XX.
Muitas obras fizeram ruído nesse tempo. Mas mais do que obras de exegese, eram instrumentos para colocar em causa os textos bíblicos, para os desnudarem das suas roupas riquíssimas do que é celeste, para os despojarem da sua espiritualidade.
A chamada Alta Crítica, a despeito de pretender ser honesta, teologicamente, para com o homem, acabou por levantar a sua voz contra o Divino, porquanto procurou apenas a Literatura nas Sagradas Escrituras, interessada em detectar fontes, tipos literários, questionando autores e datas.
É verdade que nem todos os Evangelhos apresentam a vida de Cristo duma forma teológica, procurando dar uma narratividade literária, somente o de João a apresenta de modo teológico, sobretudo. Diz-se nos meios teológicos académicos que o fez para que os leitores sejam salvos. Forma e conteúdo, todavia, estão intrinseca e espiritualmente ligados, por exemplo, nos textos sagrados evangelísticos. Estruturalmente jamais aceitaríamos ler os Evangelhos se nos fossem apresentados hoje sob a forma de romance. Diga-se o mesmo das Epístolas, onde conteúdo e forma são um corpo todo inspirado e inspirador pelo fôlego do Espírito Santo.
Perante as Sagradas Escrituras, afinal perante a sua totalidade, quem deve ficar em reverente silêncio é o Homem, e se deve falar é para interrogar como o carcereiro de Filipos, porque a Palavra de Deus é que nos questiona, nos desnuda, nos aponta o Caminho.


Texto publicado inicialmente in Confeitaria Cristã

Friday, June 20, 2008

Que Pássaros Cantam?

"Satan watching the caresses of Adam and Eve", William Blake, in Paraíso Perdido, 1808

Que pássaros cantam
no paraíso que perdi?

Que estrelas, nunca
definitivas, riscaram
num buraco do céu
a sua passagem?

Em que ramo
esqueci o fruto da vida?

Habito as alternâncias do tédio
e do ânimo, às vezes
uma casa de areia
onde mesmo assim existe
um trilho de flores silvestres.

Em que mina de ouro perdi
o olhar, que já foi um brilho
na noite?

Como é difícil ser bêbado
de silêncios.

20-6-2008

Friday, June 13, 2008

No silêncio húmido da noite

O pastor das nuvens

À noite o mar é o pastor das nuvens brancas do horizonte.Fá-las circular pelas pastagens do céu.”(Harry Martinson, “Comboio Camuflado”)

No silêncio húmido da noite
o espelho das águas reflecte
a imagem toda
o algodão branco do céu
as ovelhas de cima
dispensam o som de flauta ou harpa
pastoril
nada como olhar para baixo
antes de adormecer
e ver a imensidão bela do pastor
à luz da Lua
sempre lá.

Palmela, Junho de 2008

(© Brissos Lino)

Saturday, June 07, 2008

O Tempo que passou

Poema publicado na revista A Seara, da Casa Publicadora das Assembleias de Deus do Brasil, em Dezembro de 1971. Com «Poema de Natal» chamou-se a atenção para a Nova Poesia Evangélica e para o jovem poeta. A mesma revista, em Maio de 1972, trazia um artigo crítico, de análise, e de boas-vindas a esse trabalho para os meios literários evangélicos em língua portuguesa, assinado por Joanyr de Oliveira.

Saturday, May 31, 2008

Uma Parábola


(Quadro de Jean -François Millet)


Lembra-te dessa mulher
que arrancou com coragem
à escuridão do pó
uma moeda simples, única
mesmo diante das outras
-que eram nove.
Quando varria
não eram os seus passos
que ouvia, porque voava
sobre o chão da cozinha
seus olhos submergiam
no território onde nada
tem alma, e o chão
nunca lhe fugiu debaixo
dos seus pés.

31-5-2008